A noite foi quente, embora tremesse de frio. Lembraste? Eu sim.
Continuo transparente, como há meses escrevi. E isso continua a deter-me, a impedir-me de avançar, a estagnar-me no que ficou lá, num qualquer espaço longínquo, na Lua que procurámos e não vimos, pois só estrelas brilhavam naquele céu. Tão meu, e que foi nosso.
E a noite, sempre. Releio-me, repasso frases de outros "eus" meus, outras vidas nesta minha, tua, vossa.
Neste alguém que sou porque me fazem ser.
E continuamente procuro, insónias de quem já não dorme com medo de sonhar. Respiração alterada, ofegante, aceleração cardíaca de um músculo especial, aquele que bombeia sangue a todas as minhas células, para que eu viva.
Ingiro comprimidos mentais, anti-depressivos etéreos que permitem que a carapaça de palhaça cubra encarecidamente as partes fragmentadas de uma alma nunca una.
A descrença estende-me a mão...que eu agarro afincadamente para não cair no abismo de mim, na sombra negra que emano do meu olhar claro, quando recordo.
"Não penses nisso". E eu não penso.
Mas sinto.
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