Um dia destes, numa qualquer conversa pseudo-filosófica com um amigo, este acusou-me de ter uma sinceridade "tipicamente masculina". Fiquei sem resposta, embora aquela afirmação me tenha surpreendido.
Em primeiro, porque não sabia que a sinceridade tinha género. Já percebi há muito que tem personalidade, forma, cor e carácter, mas não género.
E em segundo, dei por mim a ponderar o porquê de EU ter essa sinceridade com género trocado!
Não tinha as mulheres como grupo desonesto.
Que raio de amigos eu tenho, não?
Após muito pensar, cheguei à seguinte conclusão: é uma sinceridade igual a tudo o que é sincero (passo a redundância), mas com uma dose de frontalidade assustadora ou, como também já me disseram, "que mete nojo"!
Perdoe-me qualquer alvo de tal característica da minha pessoa, mas vinte anos mantendo este traço inalterado, temo não ser por agora que se dê tal desvio de uma das minhas poucas coerências assumidas.
De qualquer forma, a concomitância desta mencionada sinceridade "frontal" com a incapacidade de transmitir o que de mais profundo em mim se revela, demonstra a inconstância do que sou, ou julgo ser.
Apraz-me saber que, ao menos por uma vez, num pequeno território da imensa terra que sou, reflicto opostos, facto intrigante, pois em mim nunca reconheci ambiguidades.
Talvez a transparência, que sempre me perseguiu, seja sobreposta por fugazes momentos de opacidade...